segunda-feira, 22 de julho de 2013

Artes da ameaça, As - ensaios sobre literatura e crise

Autor: Hermenegildo Bastos
Número de páginas: 152
ISBN: 978-85-6442-114-1
Editora: Outras Expressões
Categoria: Arte e Crítica
Peso: 190 g
Preço: R$ 15,00 Comprar

Os ensaios aqui reunidos dão continuidade a publicações anteriores. Giram em torno de uma questão central, com dois desdobramentos. A relação entre crise, literatura e crítica é a questão central. A literatura moderna nasceu com a crise aberta pelo surgimento e expansão colonialista do capitalismo. Não é que ela tenha respondido a uma crise externa a ela, mas sim que ela faz parte da crise que foi o desaparecimento das sociedades religiosas e, portanto, do mito. Como tal, a literatura – uma forma de discurso que, diferente do mito, desde sempre carece de legitimar-se – é necessariamente crítica, e mais, é autocrítica.
 O primeiro desdobramento é que a literatura tem se antecipado aos acontecimentos históricos, pela sua capacidade de captar o todo social antes mesmo que novas condições sociais se tornem palpáveis, visíveis. Vislumbrar os caminhos a serem trilhados tem sido, de Cervantes a João Cabral de Melo Neto, evidenciar as ameaças que a expansão capitalista, ainda em curso, termina sempre por concretizar.
 O século XXI inicia trazendo o outro desdobramento. Vivemos outra época, em que coexistem de modo surpreendente um conformismo esmagador e a gestação de novas formas de luta. Urge saber se e como a crise permanece, porque ela é a condição da crítica. Para quem dizia que as lutas ideológicas eram coisa do passado talvez sejam surpreendentes as maneiras de como a indústria cultural se apropriou de palavras históricas de luta. A literatura lida com palavras. Palavras como sonho e desejo, e as mais importantes delas – justiça e liberdade – são moedas de troca no grande supermercado em que se transformou o mundo da vida.
 “No meio do caminho tinha uma pedra”, diz Drummond. Uma pedra em que se tropeça como se num escândalo. A literatura pode dar a ver, com uma precisão escandalosa, a crise. Por isso, ela é relevante. É escandalosa a precisão com que a literatura revela o mundo e a vida, porque não é a precisão dos conceitos – que tem sido a forma confiável de precisão. Mas que a precisão possa estar no ritmo de um verso, numa figura, na fala de um personagem (como também está na vida cotidiana sem que, entretanto, a vejamos) isso é um escândalo ou uma pedra em que temos que tropeçar.

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